Lembro do ano de 2008. Parei de trabalhar
Eu me lembro que era uma proposta para o mês de agosto, o mês do folclore e setembro na sequência. Ele queria desenvolver um trabalho que atraísse o público escolar. Nada melhor do que a diversão de seu parque para as crianças, somado a uma proposta pedagógica para atrair professores, pais e diretores. Aí entrou o ALBUKA.
O Renato havia pensado em eu me fantasiar de Saci Pererê. Vê se pode? (KKKKK) Eu disse “não vai dar certo”. Primeiro: Não sou negro; Segundo: Desconheço Saci gordo (KKKKK); Terceiro: Eu tenho duas pernas. Ele sugeriu algo que pudesse esconder uma das pernas...
Sabe, eu gosto muito de trabalhar para crianças no teatro. E eu faço este trabalho partindo do seguinte pressuposto: CRIANÇA NÃO É BURRA. Esconder uma das pernas em uma estrutura mesmo que simulasse uma pedra ou uma caixa não resolveria nada. As crianças vão querer se aproximar. Vão chamar: Saci vem aqui - Não posso; ou então: Saci, deixa eu ir aí? – Também não pode... Qualquer condição iria fazer a criança suspeitar da “farsa” – que na realidade é o que é o teatro. Mas o encanto para mim era alimentar a magia e o lúdico com este trabalho. E foi o que fiz. Mergulhei de cabeça em pesquisas relacionadas a folclore e em especial ao Saci. Bibliotecas, livrarias, websites, consultei organizações, associações, entrevistei pessoas, o presidente da SOSACI (Sociedade dos Observadores de Saci) e compus todo o meu projeto que foi admirado e aceito com louvor.
Minha pesquisa me rendeu que, para que o mito exista, ele precisa muito além do mito. Precisa de um contador, quem vai dissipar o causo e pelo meio de emissão boca a boca, vai se desenvolver entre uma cultura, uma sociedade e então se criará o mito. Ela não nasce nos livros. Nasce do povo. Por isso folclore. Do inglês folk lore (conhecimento do povo). Então nasceu a imagem de um contador de causos. O preto velho Nhô Bento, nome sugerido por minha irmã.
Como Nhô Bento recebi diversas manifestações de crianças. Das mais espertinhas, até as mais lúdicas. Minha pesquisa me deixou totalmente preparado para responder qualquer pergunta que me fizessem. Até mesmo as mais técnicas, inclusive de professores. No final as crianças queriam se despedir do bom velhinho negro com abraços e apertos de mão.
Quando terminava as apresentações do dia, eu ia para a casa reservada para mim, o Recanto Realeza. Tomava um belo de um banho, tirava todo o vestígio de maquiagem e ia almoçar entre as crianças mesmo. Apenas uma criança e uma professora me reconheceram.
Mas e o Saci, ALBUKA? As crianças ainda queriam o Saci.
Pois bem, depois que o Nhô Bento recebia a visita dos grupos de crianças, eles seguiam o passeio pelo parque sem nenhuma expectativa de ver o negrinho de uma perna só. Passavam pelo lago e viam a Yara, a sereia, ou melhor, a Thaís caracterizada na ilhazinha e, de repente, algumas pedras começavam a ser atiradas no lago. Os monitores começavam a chamar a atenção das crianças pedindo para que não joguem pedras no lago. Nessa hora atrás dos monitores, bem no alto de um morro, atrás das pedras aparece o Saci, o Willian todo saltitante com gorrinho vermelho e cachimbo na boca. Ah! As pedras pouparam que uma das pernas do amigo fosse decepada! (KKKKK)
Era muita alegria! As crianças tentavam explicar que era o Saci que estava jogando pedras. Mas quando o monitor olhava para trás o Saci se escondia! Foram experiências incríveis. Algumas vezes, escondido, eu me emocionei em ver a alegria das crianças junto do resultado positivo do projeto. Deu tudo certo.
Apresentei o mesmo projeto em 2008 e 2009 no parque, além de outros trabalhos como o CIRCOMANIA e a HISTÓRIA DO NATAL. Foram quase 8 MIL CRIANÇAS. No ano de 2010 trabalhei na empresoca e, agora às vésperas do início das REINAÇÕES EM 180º recebi o convite do Renato para voltar a apresentar. Por um momento recusei, afinal já estava com as passagens compradas e com meu tempo se esgotando. Ainda assim o Renato carinhosamente pediu minha participação até o dia que eu pudesse ficar e também a preparação de um dos monitores que me substituísse. Negócio fechado.