segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

ALBUKA AMULETO

Já estamos na Europa. Sabíamos que faríamos uma escala em Madrid, mas que nem sairíamos do aeroporto para seguimos para Londres. Mas como postei aqui anteriormente, os noticiários já nos informavam sobre o frio e a nevasca que cai sobre a capital britânica. Mas não nos abatemos - em princípio.
Mas quero começar pelo começo:
No caminho para o aeroporto de Guarulhos já comecei a curtir a viagem. Comecei a apreciar cada detalhe de meu percurso e do que estava sentindo: a despedida de minha família, a espera do ônibus – que fiz questão de ir assim para não incomodar meus pais; o peso de minha bagagem, o movimento do metrô, tudo. Lembro-me de ver de dentro do vagão o prédio do Banespa enquanto estava a caminho da estão Tatuapé. Vi no alto dele a bandeira do meu estado trepidando imponente e pensei comigo “volto logo São Paulo”.
Encontrar a Sandra não foi nada difícil. Já estávamos nos falando pelo celular e isso facilitou. Nós nos encontramos com um gostoso, longo e apertado abraço de felicidade. Antes de nos apresentarmos nos demos o prazer de tomar cada um uma bela de uma cerveja, fumar os últimos cigarros – afinal a Sandra passaria quase 10 horas dentro do avião sem poder alimentar seu vício; e finalmente fomos para o check-in.
Ela ria ao olhar para minhas mãos tremulas na ansiedade de encontrar minhas coisas que queria separar para ficar em minha bagagem de mão e ainda pela senha do cadeado que não abria por causa da minha tremedeira. (RS)
Após cruzarmos o portão de embarque aproveitamos para apreciar alguns perfumes do Free Shop e então embarcamos. A San comentava que sempre pegou fila em suas experiências viajando para a Europa. Disse que era a primeira vez que viajava pela Ibéria e que todas as vezes pela TAP não era bom como estava sendo com relação a conforto, serviço, pontualidade e tal. Foi quando ela disse “você tem um rabo do cacete”. (RS) Foi aí que eu disse que eu dava sorte e era ALBUKA AMULETO brincando com ela.
A nossa emoção foi aumentando com o avião na pista, o som da turbina e na sequência quando a aeronave começou a tomar velocidade e finalmente decolamos. As lágrimas caíram e senti que meu sonho estava mais próximo de se tornar realidade.
Alguns minutos depois fomos agraciados com dois belos arco-íris que surgiram em nossa despedida. Mais tarde ainda consegui ver o meu último por do sol no Brasil em 2010.

Dentro do avião era engraçado, pois parecia que os únicos que conversavam, riam, se divertiam, éramos Sandra e eu. Mas é claro que isso foi por causa dos vinhos que fizemos questão de repetir e, para isso comecei a usar o meu espanhol com as aeromoças da Ibéria. Ficamos num grau que ríamos todo tempo as observando. Eram profissionais de tão ruim marketing pessoal que só poderia render piadas. Eu tinha outra visão das espanholas! Elas mascavam chicle, tinha os cabelos desarrumados, não usavam maquiagem e por aí vai. A Sandra as apelidou de Valquírias.
Foram horas neste clima. As luzes se apagaram, vários passageiros pegaram no sono e nós conversávamos assuntos diversos. Quando demos conta, já havia passado mais de cinco horas de viagem. Ela comentou que todas as vezes que viajou parecia que o vôo nunca iria chegar. Eu lhe disse que essa era a diferença de estarmos bem acompanhados um pelo outro. Pois eu também não vi o tempo passar.
Bem, chegou a hora que a Sandra dormiu. Mas dormiu mesmo. E quem disse que eu conseguia dormir? Acho que era a ansiedade... O único momento que consegui finalmente cochilar, quando sobrevoávamos as Ilhas Canárias – vi pelas luzes e pelo imagem no monitor do avião; fui acordado pela Sandra com suas unhas enterradas em meu braço direito assustada com uma turbulênciazinha misturada com algum sonho ela teve. (RS) Foi engraçado. Eu era o marinheiro de primeira viagem em tudo e a cagona era ela! (KKKKK)
Como fiquei acordado a viagem inteira, pude ver que fomos escoltados em toda a viagem por uma linda lua brilhante. Assim, finalmente anunciaram a nossa chegada a Madrid numa temperatura de 7ºC aproximadamente às 7 da manhã, horário local. Quando pousamos acordei a San tocando sua perna no mesmo momento que a aeronave tocou o chão. Chegamos.
A partir de agora não sei se vou ter muito que escrever do aeroporto de Madrid. Afinal, graças à nevasca em Londres, o nosso próximo aeroporto estava fechado e sem previsão alguma sobre nosso próximo vôo. Posso citar que nos perdemos procurando o nosso portão, espanhóis mal humorados para dar informações, a Ibéria que não sabia nos informar nada, meu notebook que não logava à rede, o surgimento progressivo de figuras da “américa latrina”: porto-riquenhos, brasileiros, colombianos, brasileiros, venezuelanos, brasileiros, bolivianos, brasileiros... Aff, esse povo parece praga, está em tudo que é lugar! Algumas dessas figuras era uma Paty nordestina que tinha chegado ainda no dia anterior e aguardava vôo para Londres e queria bancar a sabe-tudo. Outro era uma figura de Campinas que dizia ser Beatle-maníaco e falava mais que a boca dizendo que ia pra Liverpool para realizar o sonho de ver a terra de seus ídolos. Disse que foi no show do Paul McArtiney em São Paulo no mês passado e depois abriu a bagagem de mão para mostrar o livro do John Lennon que estava lendo, aff... Eu o apelidei de Beatle Amigo. Todos estes esperavam uma resposta da Ibéria.
A San começou a ficar nervosa, ansiosa, desanimada e tudo que tinha direito. Mas momento algum agressiva. Não podia fumar lá. Até ela descobrir que algumas pessoas faziam isso num banheiro mais isolado e foi também. Descontou tudo num saco de chocolate. Até que bem à noite fomos liberados para ir a Madrid nos hospedar num hotel e, se tivermos sorte, embarcarmos somente às 20h do dia seguinte. Era o fim de dois dias dos seis que planejamos passar em Londres. Passamos um dia inteiro dentro daquele aeroporto. Meus braços doíam por causa do peso de minha bagagem no trajeto do aeroporto de Guarulhos. O sono nos consumia. Fila, fila, fila, fila – menos na imigração, por sermos brasileiros, não precisamos de visto e passamos direto. Foi legal ver os “américa latrina” ficando para traz. (RS) – Meu Deus, me perdoa. Foi um deles que notou que éramos brasileiros e nos informou que poderíamos passar... (RS)
Parecia até que nossa sorte havia se acabado. Era o fim de ALBUKA AMULETO?
Mas quando saímos finalmente do aeroporto, mesmo sem neve alguma, pude sentir o gostoso ar frio da cidade e começar a bater meus dentes. Do lado de fora, os espanhóis eram outros. Já passei a gostar deles cada vez que pedia uma informação e era cordialmente respondido. Nessas ocasiões sempre desenvolvia um pouquinho mais o meu espanhol.
No ônibus, sob uma chuva fraca, a caminho do centro da capital espanhola pude ver um lindo arco iluminado e tive que acordar a Sandra que já dormia no ônibus novamente para ver aquilo. Todo tempo tive uma sensação de estar à vontade aqui. Passávamos em lugares que me lembravam alguns pontos de São Paulo e, Sandra paulistaníssima, concordava comigo – E eu que antigamente pensava que me sentiria um peixe fora d’água numa experiência dessas...
Já no quarto liguei para o Brasil e falei com minha mãe e minha irmã com voz chorosa, emocionado, vendo a imagem noturna da cidade pela janela do oitavo andar do quarto 803 e disse: Madrid é linda!
Sandra, que já dorme, e eu estamos num hotel ma-ra-vi-lho-so em Madrid de onde estou postando em meu blog. Apreciamos um delicioso jantar, temos toalhas quentes, tomei um delicioso banho de banheiro, a San ainda quando ligou TV já viu Ozzy Osbourne, que ela curte e, estou com uma cama super confortável me esperando.
E aí? Quem disse que perdemos nossa sorte? Quem disse que ALBUKA não é mais amuleto?
Ai-ai... Agora vou me deitar. Pois não quero perder o dia que ganhei em Madrid amanhã.
Se vamos embarcar para Londres amanhã à noite? Mistério. Mas eu vou aproveitar a oportunidade que estou tendo mesmo sabendo que mais tarde em nossa viagem voltaremos para cá.

BJÃO DO...

ALBUKA