Hoje é domingo e foi meu dia de respirar teatro. Voltar para meus encontros nos SATYROS aos domingos está sendo um processo terapêutico para minha vida voltar ao normal depois desses dois meses de exclusão por causa da pneumonia. Então, logo depois do ensaio me dei o direito de me juntar à galera e ir “padocar”. Depois, a convite do pessoal dos SATYROS mesmo, eu fui assistir a peça NA REAL.
Eu admito que fui assistir com um certo preconceito. Afinal, o básico de informações que eu tinha era que se tratava de trabalho de adolescentes, colocando em pauta seus problemas juvenis e blá-blá-blá... – Pra eu ter pensado deste jeito é porque estou ficando velho mesmo. (RS)
Agora me despindo de qualquer preconceito posso falar do trabalho. Um trabalho extraordinário de jovens comprometidos, dedicados e empenhados e uma iniciativa que envolveu pedagogia, psicologia, trabalho social e, TEATRO. Um projeto de custo acessível com cenografia feita apenas por tambores plásticos e um figurino composto de t-shirts brancas, calças jeans e All Star coloridos – nada mais jovem!
NA REAL, foi uma oportunidade de ver um trabalho que me levou a reflexões de questões contemporâneas. Estamos em véspera das comemorações da semana do Orgulho GLBT em São Paulo , onde se realiza a maior parada gay do mundo. Este ano a comunidade gay tem a celebrar o direito que conquistaram de se casarem e terem voz no congresso para reivindicar leis como da anti-homofobia e também iniciativas como o “kit-gay”, um material impresso distribuídos em escolas com o intuito de formar pessoas tolerantes a causa homossexual. Mas parece que as ONG’s que defendem a causa GLBT se apossaram do termo “diversidade” para expressar apenas a diferença sexual e, em projetos como o “kit gay”, esquecem-se da amplitude que o termo “diversidade” tem. Diversidade é falar do que é diverso. Não há nada mais diverso do que o ser humano. Sabiamente a presidente Dilma Rousseff recusou o “kit gay” com a convicção de que a idéia é coerente, mas o método não era correto.
Analisando todo o projeto de teatro que resultou em apenas cinqüenta minutos de peça, NA REAL apresenta e contrasta uma infinidade de diferenças como, rico e pobre, negro e branco, magro e gordo. Expõem problemas sociais como o alcoolismo, drogas e violência na família. A falta de atenção ao professor e ao jovem pelo sistema público. A descoberta da sexualidade e a gravidez na adolescência e a falta de expectativa diante de toda “diversidade” da vida. Ver todo o trabalho realizado com os jovens do espetáculo NA REAL, mostra um excelente caminho para se debater a diversidade entre jovens e com isso formarmos verdadeiramente cidadãos éticos e tolerantes a qualquer forma de diferença.
Muito me orgulha afirmar que este trabalho foi possível graças ao que eu mais amo fazer: TEATRO.
Homenagem ao elenco de NA REAL.
"Somos todos diferentes, por isso somos todos iguais."
(Dalai-Lama)